Li
grande parte do livro “Se Fosse Fácil Era Para os Outros”, de
Rui Cardoso Martins, enquanto atravessava o Canal do Suez e senti-me
em dois mundo: fisicamente num mais islâmico e oriental mas com a
mente numa viagem pelos USA na fantasia do Rui Cardoso Martins e
personagens contraditórias a interpretarem à sua maneira
acontecimentos usos e costumes, Wall Street, Ground Zero, o
terrorismo com esperança num paraíso de 70 virgens, …
Um
dos argumentos deste livro que sempre me causou impressões mais
contraditórias e discutíveis é o da pena de morte. Se a matemática
não é uma opinião, se certos dados não estão muito errados,
parece-me evidente que muitas vezes se podiam salvar 10, 100 ou mais
de 1.000 crianças a morrer de fome com os custos de manter em vida
um assassino. Muitos fazem mais por salvar um assassino, terrorista
ou criminoso do que para salvar milhões de crianças a morrer de
fome. Civilidade ou expressão de uma cultura mafiosa?
Extrato
de “Se Fosse Fácil Era Para os Outros” de Rui Cardoso Martins:
“– Vão
matar um homem. Não devemos perder a oportunidade
de
assistir a uma execução na pátria da democracia moderna... Tinham
cartazes:
Must
pay, God says
Death
justice for murderers
Bye,
bye monster!
Tentámos
passar para o outro lado, o dos cartazes que se opunham
Not
in my name
State
killers
Execution
is murder
Death
to death penalty!
…
activistas pró-morte, ...
Ouvi
ou li algures que no caso em questão é possível haver
erro
judicial, que ao fim destes anos as testemunhas se começaram
a
desdizer, que não já se lembravam bem da cara dele com
absoluta
certeza, (… )
Nem
pena de morte têm... Cambada de maricas, a Europa...
Este
homem vai ser executado porque matou uma mulher, o marido
dela
e a criança para lhes roubar a carteira com 50 dólares.
E
confessou tudo... matar uma família por 50 dólares,
condená-lo
a 100 anos de prisão já me parece pouco,
é
que nem 200 anos, ele devia era fritar na cadeira eléctrica ou
estrebuchar
na corda como dantes... quer dizer, naquele instante
fomos,
somos uma desgraça ética, acreditávamos e não acreditávamos
na
pena capital, é tão fácil estar a favor da morte por uns segundos,
que
bem sabe dizer viva a morte uma vez sem exemplo...
Fomos
a pátria e o centro de uma das maiores
aberrações
da Humanidade, a escravatura americana. Porque a
escravatura
nos Estados Unidos, farol da democracia moderna,
baseou-se
numa força que persiste e se calhar nunca acabará, o
racismo.
Escravos houve sempre. O Egipto tinha escravos. Atenas
tinha
escravos. Roma tinha escravos. Prisioneiros de guerra, rusgas
e
saques humanos das províncias distantes, efebos e meninas
para
servir as senhoras e senhores em casa, guerreiros treinados
para
lutar até à morte no Coliseu, cristãos para dar aos leões,
abissínios
e
cartagineses para servir de comida a enguias, crocodilos,
tubarões
nos tanques, etc., esta se calhar inventei, mas aconteceram
coisas
parecidas em Pompeia antes de ser sepultada viva pelo
fogo
do Vesúvio... Escravizava-se só pela cor da pele. O branco
dono,
o negro escravo. Propriedade do branco.
A
raiz da escravatura não era um poder político, social, a conquista
do
exército inimigo, era só a crença na superioridade
rácica.
Thomas Jefferson, pai da Nação, estadista, relator da independência
que
disse que todos os homens são criados iguais e
lamentou
o silêncio do céu no dia em que o primeiro navio negreiro
chegou,
carregado para as plantações do Sul, teve escravos
no
palácio de Monticello e por lá terá deixado mulatinhos.
George
Washington não usava dentaduras de madeira, como se
diz.
Teve vários tipos de dentes postiços. Os melhores que o primeiro
presidente
norte-americano usou eram mecanismos metálicos
de
mola rústica, para abrir e fechar a boca. Ali, incrustados
como
diamantes, estavam dos melhores dentes brancos dos seus
escravos
negros (só os libertou depois da sua morte, em testamento).
Washington
comia o almoço com dentes escravos. Até o
velho
capitão Abraham Lincoln, o mais sábio e justo dos homens,
que
lançou a guerra para acabar com a escravatura, e tentou
mesmo
entender, democraticamente, o ponto de vista dos sulistas
ao
acreditarem que Deus queria aquilo e o direito à escravatura
estaria
na Constituição, mas não estava, como ele provou, o
presidente
que fez as contas e, na sua época, um em cada seis habitantes
dos
Estados Unidos era escravo, até Lincoln disse várias
vezes
haver uma diferença física entre as raças negra e branca, ...
Tratava-nos
como aos seus cães de caça. Às vezes não nos tratava tão bem
como tratava os cães.
(...)
A
acrobacia moral necessária para se ser cristão
– os
homens são todos iguais – e esclavagista ao mesmo tempo.
A
maneira mais simples era negar humanidade aos negros. Quando
um
escravo fugia era caçado com cães, como se faz aos coelhos...” -
Extrato de “Se Fosse Fácil Era Para os Outros” de Rui Cardoso
Martins. Continuação de: É
do conhecimento
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