(CONTINUAÇÃO de extratos do livro “Se fosse fácil era para
os outros” de Rui Cardoso Martins e comentários):
“Se
calhar Deus quer-nos
a
testemunhar as suas maravilhas, enquanto lhe for útil.
O
grande templo de Salt Lake City. Nas altitudes do planalto
do
Utah quase não se fuma nem bebe, mas os problemas mais
complexos
que se levantam são teológicos e de filosofia. Os mórmones
conseguiram
trazer mistérios ainda mais incompreensíveis
à
trapalhada das religiões.
No
Templo dos Templos, essa mistura de Vaticano, Fátima,
Tailândia
e bolo de noiva, ouvindo o órgão de tubos e o coro, admirando
os
vitrais de artistas fiéis ao seu próprio kitsch, vejo o
profeta
Joseph Smith, fundador, no século XIX, da Igreja de Jesus
Cristo
dos Santos dos Últimos Dias. Estando numa colina de
Nova
Iorque, apareceu-lhe Deus-Pai e o filho Jesus (ao mesmo tempo!, não
há Santíssima Trindade, os primeiros dois mais o Espírito
Santo
são três pessoas separadas com o mesmos objectivos).
Vejo
retratos imaginários das placas de ouro escritas pelo
profeta
Mórmon em egípcio reformado, enterradas pelo seu filho
(e
anjo) Moroni e depois decifradas por Smith, que as devolveu
ao
anjo e nunca mais as vimos.
E
os frescos com a chegada às Américas de um barco carregadinho
até
à proa de profetas, 600 anos antes de Jesus, nesse navio
vinha
o tal de Mórmon. E a ressurreição de Cristo: na própria altura
em
que se libertou da lei da morte e São Tomé lhe punha os
dedos
na chagas abertas, por não acreditar, Jesus deu aqui um
salto
ao outro lado do Atlântico, para se mostrar aos indígenas...”
- Extrato do livro “Se fosse fácil era para
os outros” de Rui Cardoso Martins.
Sempre me fascinaram as crenças, religiões e
mistérios da opinião pública tão diferentes de um meio para
outro, ou de um momento histórico para outros. Tudo tem o seu local
e tempo histórico. Muitas vezes basta um local a poucos kilómetros
para encontrarmos grandes diferenças. Muitas vezes basta um
acontecimento histórico para se rir do que poucos dias antes parecia
sério, santo, sagrado ou intocável. Pode bastar pouco tempo para
parecer ridículo o que antes parecia sagrado. Estou a pensar no
filme “Deus, Pátria, Autoridade” de Eduardo Geada que depois do
25 de Abril de 1974 fazia rir às gargalhadas com discursos reais de
Salazar e sucessores, cardeais ou presidentes de República. Rui
Cardoso Martins é um artista a colocar nos personagens os
comentários cheios de ironia.
Muitas
vezes me senti um profeta, considerado maldito por uns, ilegal para
um magistrado da anti-máfia que me fez um processo por difamação
em Itália. Este processo foi usado pela minha ex-mulher para pedir o
divórcio. Mudou a minha vida. Não sei se me converteu a ser menos
ou mais profeta de uma NJF=Neo-Justiça-Futura. Por um lado deixei de
escrever tanto sobre a VIT=Velha-Injustiça-Tradicional com poucos
“pequenos” magistrados e muitos grandes advogados ao serviço da
injustiça, imoralidade, estupidez e vergonha de certa justiça. Por
outro lado, como dizia Freud, os impulsos recalcados podem
manifestar-se com mais força em formas disfarçadas de arte,
literatura, fantasia e sublimações várias. Ao reler “O
Princepezinho” de Saint Exuperi imaginei um ebook, livro ou filme
com um profeta em viagem por vários planetas de fantasia com
caricaturas e sátira sobre os intocáveis deste: mafiosos,
terroristas e magistrados. Os mafiosos podem matar por uma sátira,
os terroristas islâmicos matam por um filme ou caricaturas do mais
ridículo das suas crenças: um paraíso de 70 virgens de pernas
aberta para acolherem os estúpidos que explodem entre “cães
infiéis”. Os mais inteligentes de certo mundo islâmico têm
dezenas de mulheres intocáveis. Para uns terem muitas alguns ficam
sem nenhuma. Os mais inteligentes com muitas convencem os mais
estúpidos sem nenhuma que se explodirem vão para um paraíso com 70
virgens. Os pobres de espírito sedentos de sexo são assim
convencidos a explodirem entre vítimas inocentes com a única culpa
de não acreditarem na sua religião, “cães infiéis” como lhe
chamava o intocável dos intocáveis...
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