2008-06-05

GATOS, FAO, FOME, ADOPÇÕES, G8, 68,

Durante o mês do anterior encontro da FAO a Roma, cada vez que abria o ff, (ff=fórum dos falidos=Indymedia), via como primeiro título em destaque uns gatos para serem adoptados, com lindas fotos, as únicas publicadas neste fórum. Sentia como um punho no estômago: enquanto 800 milhões de pessoas passam fome e 140 milhões não têm escola, a prioridade de alguns é salvar gatos com custos que poderiam salvar muitas crianças. Penso que uma fotografia colocada numa montra local produzia melhores resultados de roubar o tempo de meio mundo distante que não poderia adoptá-los. Aquele meio informativo podia salvar crianças se fosse para adopção de crianças mesmo à distância.
A revista "FAMIGLIA CRISTIANA" publicou a queixa de um leitor muito ofendido por entre as imagens comoventes da fome publicarem a publicidade a alimentos para gatos "aristocráticos".
As minhas críticas a este fórum não encontraram apoio e recordei um jornal que em tempos de guerra publicou em primeira página a fotografia de uma enorme borboleta que ...
O jornalismo também tem a função de divertir, de agradar, de satisfazer emoções. Talvez estes gatos e esta borboleta tenham o seu lugar no jornalismo ...
Por ocasião do G8 de Génova li referências ao movimento de 1968 como se os "no global" fossem uma continuidade desse movimento. Senti-me um ignorante com complexos de inferioridade. Em 1968 eu tinha 16 anos, era estudante e devia saber mais desse tão falado movimento. Descobri contradições curiosas: este movimento nasceu na Polónia quando as ordens da URSS fecharam um teatro. A representação passou para uma igreja católica. Era um movimento pela liberdade contra Moscovo que alastrou a Praga, Paris e Ocidente capitalista. Mas em Paris e Roma fizeram dos heróis da revolução Russa símbolos da contestação: Mao e Stalin. Precisamente ao contrário de Varsóvia e Praga.
Os meios de informação fizeram do morto de Génova um herói. Um falido de 23 anos que morreu quando atirava com um extintor à polícia tornou-se um símbolo de todos os falidos que lutam com qualquer meio contra a sociedade de que se sentem marginalizados.
Porque houve tanta violência no G8 de Génova e nenhuma no G8 do Canadá?
No G8 de Génova manifestaram-se 300.000, destruíram a cidade com danos de muitos milhões de euros, (mais de 50 milhões segundo algumas fontes), centenas nos hospitais e um morto, um marginal delinquente que continuam a querer transformar em herói: neste momento circula em 13 cinemas italianos um filme com a mãe de protagonista a contar como o seu filho era bom ... ou "mesmo que fosse ... não merecia a morte". È curioso que só agora ouvi falar da mãe e já tinha pensado na razão porque só davam a voz ao pai. Esta tornou-se um herói popular a ponto de entrar na política. Com a fama da morte do filho entrou no Governo de Prodi. Parece-me que a sua actividade política se limitou a transformar o filho em herói mártir.
Com o passar do tempo alguns meios de informação começaram a mostrar o verso da medalha: o ponto de vista do jovem de 20 anos que disparou. Tinha fugido de um carro incendiado, encontrou-se no meio de uma multidão que lhe atirava pedras, partiam os vidros do jipe onde se encontrava com tábuas, estava já a sangrar e temeu pela vida. A perícia apurou que a bala o atingiu depois de bater em algo. O TG4 mostrou várias vezes um vídeo em que parece que a bala bateu numa pedra de uns 5 kg no ar das que atiravam contra o jipe, desviando assim a rota para a cabeça do jovem que atirava com um extintor contra ele. Disparou dois tiros e a outra bala bateu num muro à altura de 7 metros. O polícia foi apresentado como um monstro mas eu pergunto quantos jovens de 20 anos fariam melhor. Quantos polícias morreriam se estivessem desarmados como queriam alguns?
No G8 de Génova a violência ocupou os meios de informação deixando as mensagens políticas desconhecidas. No do Canadá só se manifestaram 2.000. Como se explica esta diferença?
Do Canadá não vi imagens de violência e salientam-se mais as mensagens políticas da ajuda aos pobres: 300.000.000 em estado de pobreza, 140.000.000 de crianças sem educação, só 12.000.000.000 US$ de investimentos em África. Curioso que os "no global" protestam contra as multinacionais e o Presidente do Senegal disse no G8 de Génova e voltou a repetir agora no G8 do Canadá que para o desenvolvimento da África é muito importante o investimento estrangeiro das multinacionais.

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