Todas
as moscas, certos vendedores que te gritam “my friend” e certos
publicitários têm em comum serem repugnantes…
Uma
guia turística numa visita ao Cairo falava da repugnância dos
vendedores das Pirâmides e de todos os centros turísticos e ensinou
uma frase em egipciano para afastá-los: “lala”. Experimentei o
“no thank you” mas recorrendo à frase recomendada tive melhores
resultados. Mas esta guia turística condicionou grande parte do
tempo de toda a gente do autocarro com os seus interesses
publicitários. Não queria que os turistas gastassem o seu dinheiro
com os vendedores das Pirâmides para o gastarem com os seus
vendedores dos quais certamente recebia uma percentagem. Durante a
viagem fez uma interpretação dos nomes, sempre em positivo como
recomenda Dale Carnegie no seu livro “Como fazer amigos e
influenciar pessoas”. Todos os nomes dos turistas que se prestaram
ao jogo tinham interpretações muito positivas, generosas, do melhor
que se deseja a um amigo. Depois do jogo disse que quem queria
pulseiras ou objetos decorativos diretamente da fábrica com o
próprio nome bastava escrever e receberia do fim do dia, pagando só
ao receber se estavam contentes… sugeriu excursões em camelos que
pagariam só se gostassem… Terminou num convite gratuito para beber
chá ou o que quisesse por simpatia, generosidade e acolhimento dos
beduínos. Passámos ali mais tempo do que nas Pirâmides a agradecer
a generosidade escutando a publicidade aos perfumes. Uma forma de
publicidade mais moderna e menos repugnante dos vendedores das
Pirâmides mas que se exagerada pode roubar mais tempo e dinheiro?
Uma pausa de meia hora para tomar uma bebida e escutar publicidade
pode ser um benefício para muitos turistas, alguns compradores
satisfeitos, honorários da guia turística, organização e
vendedores “generosos”. Mas se passa um certo tempo torna-se
repugnante perda de tempo para muitos.
Recebi
mais uma mensagem muito semelhante a milhares que circulam pelos 30
milhões de emails que um brasileiro vende por uma pequena fortuna:
“Se
escolhi este endereço de e-mail é a obra de Deus que me levou a
escolhê-lo entre tantos arquivos de email na net … confio esta
grande responsabilidade … uma benção e um presente veio de uma
mulher de boa fé. Sou … viúva sem filhos… gostaria de comunicar
com o mundo … sofro de um câncer terminal do cérebro… doação
parcial de minha propriedade… desejo que parte desse dinheiro seja
pago a várias associações, orfanatos e a pessoas necessitadas,
independentemente de quem você é eu quero sinceramente dar-lhe este
dinheiro avaliado em aproximadamente € 965000 (nove novecentos
sessenta e cinco mil Euros) … acaba nas mãos de uma pessoa
consciente e que tem o temor de Deus… generosa que pode fazer bom
uso …Que a paz e a misericórdia de Deus esteja com você …”
Milhões
destes emails fazem perder o tempo a milhões de pessoas por um valor
incalculável. Se fosse possível converter os PLT=publicitários
ladrões do tempo em MMM=missionários de um mundo melhor seria a
melhor revolução do futuro online.
Entrei
no Canal de Suez, um rio no deserto com alguns oásis, com o
distúrbio das moscas que me recordam o funeral de uma mosca no livro
de Rui Cardoso Martins, os vendedores de ontem nas Pirâmides e os
publicitários ladrões legais civis do tempo...
Pensei
deixar o Egito sem ver as Pirâmides. Tinha feito as minhas contas a
6 horas de viagem para ir e voltar … aos custos … e tinha pensado
que com aquele tempo e aquele dinheiro comprava ebooks online e me
divertia mais com mais e melhor informação de um dia no Cairo, no
museu e nas Pirâmides...
Mas
ao último momento de deixar o Egito o meu
amigo Bosko (1),
disse-me que se tinha inscrito e havia um posto livre por €25 para
tripulação. Sabia que ele precisava de mi para o filmar … poderia
filmar-me a fazer magia nas Pirâmides e assim foi …
Valeu
a pena, não tanto por ver as Pirâmides, o museu ou a cidade do
Cairo, mas sobretudo para um estudo da publicidade a condicionar o
tempo de férias, cultura, arte e comércio.
Toda
a viagem foi marcada pela publicidade direta ou subliminar no
interesse de algumas pessoas. A guia era uma pessoa simpática,
inteligente e instruída, com diploma universitário de guia
turística mais 4 vezes aprovada nos controles temporários. Imagino
que ganhou muito mais das comissões publicitárias do que pelo
pagamento do seu serviço. Imagino que o seu interesse prioritário
era convencer os passageiros a gastarem muito dinheiro com quem lhe
pagava as comissões e nenhum com quem não lhe pagava. Várias vezes
disse para não comprarem nada dos vendedores das Pirâmides,
responder de forma agressiva às tentativas de contacto, evitar
qualquer comunicação respondendo “lala” que deve significar em
árabe qualquer coisa como “desaparece e deixa-me em paz...”
porque resultava muito mais eficiente do cordial “thank you”.
Propuseram-me 5 postais ilustrados por €1 e comprei... O meu amigo
Bosko repetia-me que a guia tinha dito … Mas eu quis comprar
aqueles postais e o vendedor meteu-me nas mãos mais um tradicional
lenço com cordão para pôr na cabeça, dizendo que era oferta mas
depois pediu-me mais um euro e como só tinha moedas de dois euros
paguei pensando que sempre me podia servir e o tempo tinha valor...
O
meu amigo continuou a repetir-me que a guia tinha dito … E eu
pensei que o meu amigo era mais condicionado da publicidade legal e
“civil” de quem é pago para servir os passageiros mas preferia
servir os seus clientes que lhe davam comissões...
Na
viagem fez uma divertida interpretação das letras dos nomes: cada
letra tinha um significado, sempre positivo, só boas qualidades,
nenhum defeito... Pensei nas técnicas do livro “Como Fazer Amigos
e Influenciar pessoas de Dale Carnegie: Diz só o que é bom e não
digas nada de mal... Pensei nas técnicas populares de Beppe Grillo:
só o bom do seu publico e mal dos inimigos, estranhos ou opositores
ao seu grupo de pertença...
Acabei de ler o livro “Se Fosse Fácil Era Para
os Outros”, terceiro romance de Rui Cardoso Martins, enquanto
atravessava o Canal do Suez, disturbado por muitas moscas das mais
peganhosas que já conheci. Adorei o livro. A monotonia do Canal do
Suez, como um rio largo num deserto com alguns oásis, contrastava
com a viagem da leitura por meio mundo da fantasia (e/ou realidade?).
Muitas vezes me perguntava onde terminava a fantasia e começava a
realidade. Recordo que O Rui me contou das realidades mais incríveis
da fantasia nos outros seus livros... No primeiro romance, “E se eu
gostasse muito de morrer?”, muitas das suas histórias mais
incríveis baseiam-se em factos reais.
O
segundo romance: “Deixem passar o homem invisível”, (2009),
deu-me a honra de ser o terceiro personagem, Serip, com muitas das
minhas ideias romanceadas, com parte da minha vida fantasiada. Com
sua autorização transcrevo do seu terceiro romance: “SE FOSSE
FÁCIL ERA PARA OS OUTROS”, (Publicações Dom Quixote,
www.dquixote.pt,
www.leya.com):
“Adeus
menina.
Adeus, moscas moles ao sol, ...
Escolhei bem o vosso monte de merda. E o campo de
flores, o vale de lágrimas.
Só se vive um mês uma vez...
Os olhos de bola de espelhos da
discoteca, começou o slow
romântico,
vamos dançar, tuas lindas pupilas faíscam de mil
cores,
és linda meu doce, fecha as asinhas de fada e deixa-me abraçar-
te,
deixa-te abraçar, está tudo bem menina...”
Certos
artistas têm a capacidade de transformar a banalidade em arte ou
espetáculo, dar sensualidade ao funeral de uma mosca.
O
mais famoso crítico de arte de Itália, Vittorio Sgarbi, falou na TV
da “merda de artista”, daquilo que muitos consideram uma merda
mas pode ser transformado em arte e ouro pelos artistas.
As
moscas que depois de poisar na merda tentam entrar-nos na boca, as
banalidades do quotidiano transformadas em arte pela pena de Rui
Cardoso Martins são o início de uma viagem aos USA, México,
Uganda, Sarajevo, (ou Saraievo?), …
São
repugnantes como certos vendedores do Egito e certos publicitários
online...
Imagino
que muitos publicitários online do futuro ganharão com as minhas
ideias sobre “Como
ganhar online com ética e utilidade social”,
para não se tornarem repugnantes como as moscas e certos vendedores
do Egito.
(1) Bosko
Beuk publicou
algumas fotos e eu comentei: “…Joao
De Deus Pires...
Os burros a puxar carroças... Recordei um amigo que uns 30 anos
atrás se maravilhou de ter visto a Budapeste imagens idênticas na
cidade... O Cairo será hoje como Budapeste uns 30 anos atrás?”
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