Não
recordo maior promessa da publicidade tradicional por carta: €800,
viagem com pequeno almoço e jantar, uma bicicleta elétrica, sorteio
de prémios, etc… Só na Internet conheço maiores promessas sem exigir nada em troca.
Participei
com a intenção de me divertir com as suas técnicas publicitárias
e escrever um capítulo de um livro ou ebook. A aventura durou 7
horas com muitas reflexões de biologia, psicologia e filosofia da
publicidade, consumo e futuro da publicidade.
Pontual
às 8 horas chegou o autocarro, depois de 2 horas de viagem no
arredores de Berlim chegámos ao destino onde tomámos um pequeno
almoço gratuito como prometido. Depois de uns problemas que não sei
se foram enganos ou feitos de propósito para justificar a falta do
pagamento dos €800 e da bicicleta elétrica, escutamos por cerca de
duas horas a publicidade a um tacho melhor dos outros, facas que
cortavam com metal-diamante e um sistema de ímanes nos quais se
dormia melhor e curavam melhor da medicina tradicional. As facas
tinham um preço de quase €700, eram vendidas por menos de €200
mas na pausa do almoço ouvi uma pessoa dizer que as tinha comprado
iguais por €70 numa venda idêntica. Só um reclamou os €800 que
tinham prometido no convite e todos riram dele por ter acreditado.
Várias vezes riram da promessa da bicicleta na qual ninguém
acreditou. Foi tudo gratuito como prometido, inclusive o almoço, um
sorteio com alguns prémios de dezenas de euros e a viagem de
regresso mesmo se ninguém comprou nada. Do prometido só faltaram
os €800 e a bicicleta elétrica que mais ninguém se atreveu a
reclamar.
Só
o autocarro custou €600, pelo menos 4 pessoas ocuparam um dia além
do tempo e dinheiro com a organização. Imagino que custou alguns
milhares de euros para convencer 18 pessoas a comprarem produtos com
grande probabilidade de serem mais caros ou utilidade duvidosa.
Teria
sido um investimento para futuras vendas? Ou o fracasso de um sistema
de publicidade que tenderá a desaparecer?
Recordo
viagens deste género na Tunísia mas com menos custos e mais lucros:
anunciavam nos hotéis visitas guiadas gratuitas da cidade e museus
mas iam diretamente às demonstrações de vendas dos tapetes e não
sei se quem aguentava um dia de vendas tinha direito a algum museu ou
só à visita da cidade de um negócio para outro.
Uma
senhora contou-me que já tinha participado a duas destas viagens com
vendedores piores, agressivos a convencerem as pessoas que estavam
doentes e precisavam de certos medicamentos.
A
promessa dos €800 e da bicicleta elétrica parece-me absurda e
estúpida. Imagino que é uma promessa atrativa sobretudo para quem
precisa de dinheiro e não pode comprar. Se atraiu alguém a esta
viagem deve ter contribuído a evitar outros com mais dinheiro, mais
inteligentes e que sentiriam vergonha de acreditar em semelhante
promessa.
Em
cada país, região ou cultura existe um certo meio termo das
mentiras toleradas, credíveis para estranhos ou deficientes. Com
Internet e novas tecnologias desaparecem as fronteiras, regiões e
culturas locais. Tudo é global. Cada um que sai de uma cultura local
e entra numa global de Internet comete erros de confiança ou
desconfiança exagerada. As mentiras, falsas promessas e arte de
enganar não têm limite de tolerância. Daqui resulta um dano enorme
para os melhores, mais honestos e que mais bem fazem com as novas
tecnologias. Uma ética, moralidade e legislação global que punisse
as mentiras com multas para premiar melhores seria um benefício
global enorme em termos de tempo e dinheiro de muitos. Imagino multas
a quem promete e não cumpre para financiar melhor justiça,
política, informação, melhor investigação dos produtos saudáveis
e melhor emprego para quem produz benefícios sociais.
Durante
a viagem imaginei um filme com terroristas que se infiltravam e
obrigavam ao pagamento dos €800 e das bicicletas. Imaginei um
programa de TV com infiltrados que filmavam, chamavam a polícia,
testemunhavam publicamente e causavam escândalo. Naturalmente isto
só pode ser justo num filme, fantasias ou TV. Imagino que na realidade os
responsáveis estão bem protegidos e longe dos locais do “crime”.
Imaginei
um NEO-profeta da publicidade e marketing do futuro, de uma
NEO-política, NEO-anarquia e NEO-justiça, J3M=JUSTIÇA EM 3 MINUTOS
em particular para todos os ladrões do tempo.
Imagino
uma NEO-ONU que não precise de pedir dinheiro para salvar 6 milhões
de mortos de fome: com multas e serviço social para ladrões online
podia financiar todas as suas campanhas humanitárias.
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