Não
recordo de sentir falar de Mário Soares antes do 25 de Abril de 1974. Mas
recordo a opinião que tinha de Humberto Delgado, exactamente contraria à que
Mário Soares exprimiu publicamente. A minha primeira informação política quase
se limitava à Emissora Nacional, Rádio Renascença e Rádio Altitude. Recordo a
emoção do primeiro rádio, da gente que se reunia em casa do afortunado que se
podia permitir um rádio. A electricidade ainda não tinha chegado à minha terra,
nem TV nem jornais. Esta informação deu-me a impressão de que Humberto Delgado
era para Portugal como Osama Bin Laden para os americanos: um terrorista sem
coração.
Depois
do 25 de Abril, frequentando universidades, cursos de psicologia, sociologia,
biologia, filosofia e jornalismo, tornei-me um fã de Mário Soares como a
maioria dos portugueses mais informados politicamente.
A
pior desilusão que recordo de Mário Soares, foi quando visitou o seu amigo
Craxi no exílio na Tunísia. Tinha vivido em Itália no apogeu e declínio de
Craxi, absorvido da informação italiana o seu pior. Para mi Craxi não era como
Osama Bin Laden para os americanos ou Humberto Delgado para a maioria dos
Portugueses no tempo de Salazar mas pouco faltava.
Hoje
penso que Humberto Delgado, Craxi e Berlusconi foram vítimas de muita
desinformação que condicionaram crenças, política e justiça. Creio que um dia
os processos a Craxi e Berlusconi serão vistos como uma vergonha de certa
justiça, política e informação ou desinformação. Imagino que para muitos de
hoje as 12 prisões de Mário Soares são consideradas como medalhas de bom
comportamento. Imagino que o facto de no quarto governo de Berlusconi existirem
84 parlamentares italianos indagados ou condenados será a vergonha de uma
justiça mais interessada a condenar políticos do que piores mafiosos das piores
bandas criminais.
Quando
li o que Mário Soares escreveu sobre Humberto Delgado pensei no poder da
informação ou desinformação daqueles tempos. Imaginei-me com uma túnica em que
escrevia “FAÇAM OUTRAS LEIS OU CAGUEM NAS LEIS MAS FAÇAM JUSTIÇA” para
protestar contra uma injustiça de que fui vítima de um grande
advogado-ladrão-mafioso. Se fosse para a prisão por enfiar essa túnica e me
recusasse a tirá-la enquanto não obtivesse justiça seria julgado pela História
como um revolucionário contra a estupidez, imoralidade e injustiças da justiça?
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